quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Os Damaias: Capítulo III- "Deixam entrar saca-rolhas?"

Hernâni dirigiu-se a passos largos para a entrada do hotel, quando subitamente se deteve com a visão de um pequeno círculo na porta do edifício. Uma negra mancha canina cruzada por um frio traço vermelho fez com que todos os olhares se voltassem para Nikas.
- Parece que não podes entrar...-suspirou um desapontado Becas.
Mais abaixo, um sinal do mesmo tipo proibía a entrada a chaves de fendas, cuja leitura foi seguida de um moroso despedimento do Sr. Asdrúbal, a chave de fendas de estimação de Becas.
- Espero que encontres bom parafusos por esse Mundo fora...- distinguia-se entre lágrimas.
- Bem, eu vou ver se é possível fazer alguma coisa em relação aos saca-rolhas.- disse Hernâni enquanto entrava no hotel.
A porta de vidro chiou quando Hernâni entrava, e parou quando a expressão de assombrado deleite se estampou na face do Cabo-Verdiano.
O chão de madeira carunchosa vacilou com os passos maravilhados de Hernâni. As paredes de um bege mal pintado estendiam-se até onde o olhar podia ver, porque a seguir o corredor mergulhava na escuridão. Era um corredor muito estreito, apenas duas pessoas podiam caminhar nele lado a lado, a não ser que uma delas fosse obesa. As manchas na pintura devido à humidade contrastavam com a moldura dos dois quadros presentes no hall: uma bola de futebol flutuando num charco de lama e um barco a remos no leito seco de um riacho. Uma etiqueta de 2,5€ no canto inferior de cada um das obras desapontava as especulaçoes sobre o seu valor, fazendo os intervenientes aperceberem-se de que era o trabalho de um menino de tenra idade. Baixando os olhos por um instante, Hernâni deparou-se com algo verdadeiramente surpreendente: um buraco no chão. Não um pequeno orifício na madeira, mas um sincero buracão no atapetamento, coberto com papel de celofane de cor dúbia. Aproximando-se, apercebeu-se do tom amarelo do papel, mas recuou quando viu que o piso era mais escorregadio na zona circundante do buraco. Tiras de pano no tecto remendavam buracos causados pela vida que percorria o interior das paredes do hotel. A luz intermitente no tecto não providenciava a luz que se fazia sentir no corredor. A atenção de Hernâni voltou-se então para uma luz azul que brilhava perto do balcão. Após pensar que se tratava de um simples aparelho para matar indesejáveis insectos acabou por se aperceber, após cuidadosa leitura do rótulo, que se encontrava de facto na presença de um dos raros mata-alces em Portugal, apenas mais uma prova da qualidade do estabelecimento hoteleiro onde se encontrava.
- Necessita de alguma ajuda?- uma voz seca ressoou atrás de si.
O susto quando se virou fê-lo saltar...

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