quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Os Damaias: Capítulo III- "A Colina da Chuva"

-Chama-se A Colina da Chuva, ja ficou la hospedado um primo em segundo grau do meu bisavô, um carteiro, vejam lá!- o estatuto social do invocado foi sufuciente para convencer os familiares da adequação do local.
E lá seguiram, três Cabo Verdianos e um cão, em busca de um tecto para passar a semana que Adalberto levaria a completar a renovação d'O Canivete. Percorreram as ruas de Lisboa com passo estugado, pesado pela garrafa que Hernâni transportava. Visto ainda terem algum tempo antes do anoitecer, resolveram parar em algumas das atrações turísticas: urinaram à porta da Torre de Belém, comeram tremoços numa tasca em frente do Mosteiro dos Jerónimos, atiraram rochas a pombos do topo do Padrão dos Descobrimentos, rezaram na Igreja de Sta. Engrácia por um mundo mais etílico, abasteceram-se de especiarias orientais no Bairro Alto e de bens essenciais no El Corte Inglés, desta feita sem o recurso à unidade monetária. Assim passado o tempo, acharam por bem dirigirem-se ao hotel. Quando interrogado sobre o caminho, Hernâni apenas respondeu:
- Relaxem, eles têm chauffeur...- um agradável ar de espanto cobriu Esbéquio e Becas.
Hernâni fez um curto telefonema, após o qual aguardou apenas alguns minutos até se vislumbrar um ponto verde à distância.
-Cá está ele!- exclamou um satisfeito Hernâni.
Num breve momento, uma rã apresentou-se em frente aos três familiares.
-Ela leva-nos ao hotel.- nos rostos de Esbéquio e Becas o espanto transformou-se em desapontamento, que foi seguido de uma bengalada na testa de Hernâni. Resignados lá seguiram a rã até ao hotel. Hernâni ainda tentou meter conversa, mas o batráquio não parecia muito aberto a socialização. Surpreendentemente rápido, encontraram-se à porta de um majestosamente remendado edifício pintado de amarelo, recheado com aleatoriamente posicionadas fracções de um qualquer talento sulista espressando-se na forma de círculos da cor de um nenúfar apanhado num ciclone, ou talvez fosse verde, era um mistério que ocupava os dias da população local. As janelas tinham um rebordo suspeitamente negro, e todas as cortinas se encontravam fechadas. Um coaxar interrompeu a comtemplação. Três pares de olhos fixaram-se na rã que esperava impacientemente.
- Ah, a gorgeta!- lembrou-se Hernâni- Esbéquio...
Um aceno de cabeça na direcção do ancião traduziu-se na aterragem perfeitamente calculada da bengala na diminuta testa da rã, que de imediato abalou a uma velocidade estonteante.
-Entramos?

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